sábado, 12 de setembro de 2020

Navios da OM

 

Das Américas á Asia, da Europa á África, há cerca de 40 anos, quatro navios da organização missionária Operação Mobilização, tem vindo a percorrer os mares do mundo, visitando 140 países, mais de 1100 portos visitados, com uma mensagem solidária de fé e esperança, que chegou a cerca de trinta e cinco milhões de pessoas, e que tem envolvido mais de quinhentos voluntários abordo dos navios, um dos quais um navio dinamarquês, construído em 1949, com o nome de Umanak, e rebaptizado com o nome grego Logos que significa palavra.

Este navio partiu de Londres em 1971, e navegou para África, a partir da Europa, seguindo posteriormente para a India e o leste asiático, tendo recebido permissão após a saída das tropas americanas do Vietname, para viajar através do rio Mekong, para Saigão, estadia após a qual regressou à Europa onde visitou Portugal uma primeira vez, de 15 a 29 de Dezembro de 1976, e uma segunda vez, de 10 de Maio, a 19 de Junho de 1984, tendo sido visitadas as cidades de Lisboa e Porto.

No rescaldo da guerra do Vietname, o navio Logos navegava nos mares do sul da China, e da ponte foram avistadas duas embarcações com refugiados que estavam á deriva. Pese embora a lotação reduzida do Logos, o comandante do navio cumpriu uma das mais nobres missões salvando noventa e três náufragos que terão sido acolhidos pelas autoridades Tailandesas.

Após 17 anos de actividade que juntou o intercâmbio cultural, a solidariedade, a venda de livros e acontecimentos tais como conferências abordo, depois de ter percorrido 230.330 milhas náuticas, ter recebido abordo seis milhões quinhentos e sessenta mil visitantes em 108 países e 255 portos visitados, na noite de 4 para 5 de Janeiro de 1988, às 23:55 minutos locais, quando navegava por Tierras del Fuego, no Estreito de Magalhães, o navio rasga o casco ao bater nas rochas submersas da região, tendo encalhado nas águas costeiras do Chile.

Dado o alarme e accionados os meios de socorro, a marinha chilena e argentina que procediam a exercícios navais na zona, socorreram a tripulação do navio, a qual era composta por 141 pessoas, entre homens mulheres e crianças, sendo que pelas 04:30 daquela madrugada, já toda a tripulação do navio esta a salvo.

Para dar seguimento às várias actividades solidárias, culturais, venda de livros e conferências abordo, nesse mesmo ano foi adquirido o antigo navio António Lázaro, construído em Valência (Espanha) em 1968, começou a ser restaurado em Amsterdão, para substituir o navio naufragado a sul da Argentina.

O Logos ll completou em Julho de 2008, 20 anos ao serviço da Operação Mobilização, tendo recebido cerca de 11 milhões de visitas, visitado 350 portos em cerca de 86 países, percorrendo um total 194.710 milhas náuticas. Da Jamaica ás Baamas, da Holanda ás ilhas Faroé, do Monte Negro à Libya, do Ghana ao Chile e da Costa Rica a Portugal, foram estes e muitos outros países que receberam a visita deste navio, servido por muitos homens e mulheres voluntários de muitas nacionalidades que incluíram Portugal, e que por um período de tempo, propicia enriquecimento pessoal através do envolvimento nas actividades do navio, que incluía ajuda a populações carenciadas.

Em 1914 era construído nos Estados Unidos o cargueiro Medina, que participou na l Guerra Mundial, fazendo o transporte de mantimentos para as tropas, sendo adquirido em 1948 por uma companhia com sede no Panamá que o transformou no cruzeiro Roma, mudando novamente de mãos em 1952 para a companhia Costa Cruzeiros que lhe atribuiu o nome de Franca C e finamente, em 1977 adquirido pela Operação Mobilização que o transformou na maior livraria flutuante do mundo, tendo sido rebaptizado com o nome de Doulos, nome grego que significa servo, tendo visitado Lisboa uma primeira vez entre 13 de Julho e 2 de Agosto de 1978.

Atracado na Gare Marítima de Alcântara, tendo recebido abordo entidades oficiais, e algumas dezenas de voluntários das comunidades evangélicas locais que partilhámos um espaço acolhedor de intercâmbio cultural e que marcaram pela positiva, todos aqueles que estivemos abordo, que após a partida do navio começámos a receber regularmente as notícias dos navios da OM, que passados sete anos, incluíam novamente uma visita a Portugal, o que seria nova oportunidade de estar abordo.

Vindo da Inglaterra, em 1985, o MV Doulos iniciava nova visita a Portugal, começando no Porto de Leixões, e tendo a minha vida sido profundamente marcada pela primeira visita do navio, ao ter conhecimento da sua segunda vinda, parti á boleia a partir das antigas portagens de Sacavém para ir ter com o navio ao Porto, atravessando a ponte de Leça, debaixo de uma chuva intensa, para integrar mais uma vez a equipe de voluntários.   

Nesta sua segunda visita a Portugal, o navio escalou Porto, Lisboa e Setúbal, tendo a abertura ao público sido presidida por destacadas entidades oficiais tais como: o Sr. Governador Civil do Distrito do Porto, Dr. Cal Brandão e o Dr. Alçada Batista, representante da edilidade de Lisboa, seguindo-se uma intensa actividade que culminou com a chamada Noite Internacional que teve lugar no Palácio Galveias da capital. 

O navio esteve depois um período de doca seca nos estaleiros da Margueira, mas a sua tripulação foi recebida em várias comunidades evangélicas espalhadas pelo país, onde puderam interagir com as mesmas, tornando a sua passagem por Portugal num acontecimento único que marcou as suas vidas, seguindo depois para Setúbal para a terceira escala que no conjunto dos três portos somou 118.796 visitas.

A alguns daqueles que estivemos abordo no navio Doulos em Portugal, foi-nos dada a oportunidade de integrarmos a tripulação do mesmo por algum tempo, zarpando no dia 24 de Junho de 1985, rumo aos vários portos de Espanha, a partir de Cádis, numa experiência única abordo de um navio que nos anos 90 entrou para o Guines Book of Records, como o navio de passageiros mais antigo do mundo ainda a navegar.

Após ter visitado 601 portos em 108 países e percorridos 360.000 milhas náuticas, o equivalente a 16 voltas ao mundo, o navio cuja dimensão era 130:5, mas transportava nos seus porões 350 toneladas de livros e faziam parte da sua tripulação 300 pessoas, oriundas de 35 nacionalidades diferentes dos cinco continentes, em 2010, o Doulos completava 95 anos e terminava a sua missão, sendo convertido como Museu em Singapura e posteriormente em Hotel na Indonésia.  

Construído em 1973 como ferry, como o nome inicial de Gustav Vasa, este navio foi adquirido em 1983 pela companhia Smyril Line, foi rebaptizado com o nome Norrona, tendo navegado entre as Ilhas Faroé e a Dinamarca.

Com a necessidade de substituir o Navio Logos ll, a GBA-Good Books For Alls, adquiriu o Norrona em 2004, que foi preparado para dar continuidade ao trabalho dos anteriores navios Logos, Logos ll, e Doulos, sendo-lhe atribuído o nome Logos Hope (Esperança), tendo-se procedido á transferência dos tripulantes do Logos ll, (antigo António Lázaro) para este navio que acomoda cerca de 60 nacionalidades, compostas por cerca de 400 tripulantes abordo.

Depois de ter percorrido 120.319 milhas náuticas, ter visitado 74 países e territórios num total de 181 portos, de 26 de Fevereiro a 17 de Março, o navio Logos Hope faz a sua penúltima escala na Jamaica, antes de zarpar rumo á Europa, visitando vários países Europeus, fechando o ano de 2020 com uma escala em Cardiff, no Reino Unido de 22 de Dezembro a 12 de Janeiro de 2021, antecipando a sua primeira visita a Portugal nos primeiros meses de 2021.

O navio Logos Hope vai brindar Portugal com uma escala ao Porto e Lisboa, com a abertura ao público da sua vasta exposição de livros, com conferências abordo, com programas direccionados para as comunidades locais, uma troca de experiências multiculturais, num navio multifacetado, que além da sua livraria, oferece também ajuda prática, que vai desde a distribuição de livros e até doações diversas que incluem orfanatos, escolas, prisões, ajuda médica a pessoas da terceira idade, entre outras, e que marcará Portugal como mais uma visita histórica

 

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Decepção com a politica


 A politica é uma causa nobre, mas deixa de o ser a partir do momento em que abdicamos dos nossos valores, e nos deixamos guiar por interesses que colidem com esses valores. Foi uma experiência rica, mas não abdica de princípios para dar visibilidade a seres humanos que na prática pouco se importam com o que se passa á sua volta. 

Opinião no Jornal Setúbal Mais