Má Prática Médica
A 12 de Maio de 1983, fui
atropelado no norte do país, tendo estado internado cerca de dois meses, com
fratura nas pernas (uma delas exposta na perna esquerda) e na bacia. Foram-me
colocados oito fixadores externos na perna esquerda e teria de ser submetido a
uma terceira intervenção cirúrgica que foi sucessivamente adiada, alegadamente
por ter a perna infetada, e ter que ficar para último a ser operado para não
contaminar o bloco operatório.
Fui questionado sobre se queria
ser transferido para Lisboa, uma vez que estava deslocado do seio familiar,
tendo sido transferido para o Hospital de Santa Maria, no dia 13 de julho, onde
o internamento foi recusado, sendo levado posteriormente para o Hospital de S.
José onde igualmente foi recusado o internamento, sendo encaminhado para o seio
familiar com o argumento de que não era necessário ser intervencionado e que
bastava fazer o penso, tendo nos dias seguintes recorrido a várias unidades
hospitalares sem sucesso, até que á publicação de uma reportagem no vespertino
Diário Popular a 19/07/1983.
Após dois meses de internamento
no Hospital de Santa Maria e uma decisão médica, acabei por não ser operado á
perna esquerda porque depois de exame radiológico, embora desalinhada, se
verificou uma consolidação da fratura exposta, tendo-me sido retirados os
fixadores e externos, e colocado um aparelho gessado tendo alta do Hospital e
enviado para casa com consultas semanais, onde após alta das mesmas, nem sequer
me foi prescrita fisioterapia.
Oito anos depois, fortes dores na
coxa direita, levaram-me a uma consulta de urgência no Hospital Conde do
Bracial em Santiago do Cacém onde o clinico de serviço verificou que o osso
estava a crescer por cima do ferro e uma eventual cirurgia teria de ocorrer no
hospital de Abrantes, tendo a mesma ocorrido a 23-11-91, mas não conseguiram
extrair os ferros e mais uma vez foi fraturada a perna, tendo sido transferido
para o hospital Conde do Bracial, onde permaneci cinco semanas internado sem
uma assistências médica condigna, concluída a mesma, posteriormente no Hospital
Ortopédico do Outão.
Anos mais tarde, fortes dores na
minha cabeça e na parte direita da minha cara com indícios de paralisia facial,
levaram-me ás urgências do Hospital Conde de Bracial, em Santiago do Cacém,
onde a consulta me foi recusada, tendo sido encaminhado para o Centro de Saúde
de Sines, onde o clinico de serviço, confirmando as suspeitas, me encaminhou
para o Hospital de São Bernardo em Setúbal.
Ao longo do ano de 2001, comecei
a sentir um nódulo na coxa esquerda e consultei o médico que além de nem ter
verificado a situação, não recomendou exames médicos, tendo prescrito apenas
uma pomada Picalm, e tendo também me aconselhado a inventar outras doenças. Numa
segunda consulta com outro clinico disse-me que o tal nódulo era um lipoma, mas
perante o não desaparecimento do mesmo, voltei a consultar um terceiro médico
que ao ter prescrito um exame específico, o relatório emitido em 24-04-2002,
confirmou as suspeitas de um cancro grave (Leiomiossarcoma), tendo sido
encaminhado para o IPO em Lisboa onde fui submetido a uma cirurgia que
consistiu numa excisão mais alargada.
A descrição destas quatro
situações, configuram má prática médica, em que no caso da transferência do
Porto para Lisboa, fui informado posteriormente que a equipa médica que me
tratou inicialmente, me enviou para Lisboa para não me amputarem a perna.
Por minha iniciativa comecei a
fazer exercícios físicos de forma autónoma, e a dar os primeiros passos que me
permitiram também procurar um trabalho compatível com a minha nova condição
física. Apoiado em duas canadianas, andava cerca de dois quilómetros diários
para trabalhar num armazém de artigos de papelaria, trabalhei na distribuição,
trabalhei na metalúrgica e á cerca de 27 anos, na Segurança Privada, na
estrutura portuária de Sines, fazendo turnos de 12 horas.
Uma junta médica atribui-me um
grau de incapacidade de 81%, e aos 60 anos de idade, a caminho dos 45 anos de
descontos para a Segurança Social, o valor de uma eventual pensão, será de
644:00
Para alguém cuja infância ficou
marcada pelo atropelamento por um comboio aos 4 anos de idade, e nos últimos 25
anos se sujeitou a 11 intervenções cirúrgicas, somando a totalidade de 20
intervenções ao longo destes 60 anos, inclusive a um cancro, e nunca esteve de
baixa, porque a mesma poderia dificultar o cumprimento de compromissos, e consegui
articular com os meus colegas para fazerem os dias em que estava de
serviço, que posteriormente foram pagos em dias de folga, quando após as
intervenções, voltei ao serviço. A ausência do Estado na proteção capaz dos
seus cidadãos, é reveladora da atuação do Estado Social, que prefere premiar
quem não faz nada com subsídios, do que minimizar as dificuldades de que era suposto
ser apoiado por um Estado onde a inclusão é apenas uma palavra sem aplicação
prática.
Mediante factos, considero que a
constituição da República da 5º revisão, está colocada em causa no capítulo dos
Direito e Deveres Socias no artigo 63-nº3 e no artigo 64-3 a
Quando a classe política, além
das pensões a que pode ter direito, acumula subvenções vitalícias porque dizem
serviram o país, esquecem-se que o comum dos cidadãos, também serviram o país,
pagando impostos para usufruírem de serviços de qualidade, mas o direito aos
mesmos, fica muito aquém do que seriam desejável.
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