quarta-feira, 12 de junho de 2024

Situação Injusta

 

Má Prática Médica

 

A 12 de Maio de 1983, fui atropelado no norte do país, tendo estado internado cerca de dois meses, com fratura nas pernas (uma delas exposta na perna esquerda) e na bacia. Foram-me colocados oito fixadores externos na perna esquerda e teria de ser submetido a uma terceira intervenção cirúrgica que foi sucessivamente adiada, alegadamente por ter a perna infetada, e ter que ficar para último a ser operado para não contaminar o bloco operatório.

Fui questionado sobre se queria ser transferido para Lisboa, uma vez que estava deslocado do seio familiar, tendo sido transferido para o Hospital de Santa Maria, no dia 13 de julho, onde o internamento foi recusado, sendo levado posteriormente para o Hospital de S. José onde igualmente foi recusado o internamento, sendo encaminhado para o seio familiar com o argumento de que não era necessário ser intervencionado e que bastava fazer o penso, tendo nos dias seguintes recorrido a várias unidades hospitalares sem sucesso, até que á publicação de uma reportagem no vespertino Diário Popular a 19/07/1983.

Após dois meses de internamento no Hospital de Santa Maria e uma decisão médica, acabei por não ser operado á perna esquerda porque depois de exame radiológico, embora desalinhada, se verificou uma consolidação da fratura exposta, tendo-me sido retirados os fixadores e externos, e colocado um aparelho gessado tendo alta do Hospital e enviado para casa com consultas semanais, onde após alta das mesmas, nem sequer me foi prescrita fisioterapia.

Oito anos depois, fortes dores na coxa direita, levaram-me a uma consulta de urgência no Hospital Conde do Bracial em Santiago do Cacém onde o clinico de serviço verificou que o osso estava a crescer por cima do ferro e uma eventual cirurgia teria de ocorrer no hospital de Abrantes, tendo a mesma ocorrido a 23-11-91, mas não conseguiram extrair os ferros e mais uma vez foi fraturada a perna, tendo sido transferido para o hospital Conde do Bracial, onde permaneci cinco semanas internado sem uma assistências médica condigna, concluída a mesma, posteriormente no Hospital Ortopédico do Outão.

Anos mais tarde, fortes dores na minha cabeça e na parte direita da minha cara com indícios de paralisia facial, levaram-me ás urgências do Hospital Conde de Bracial, em Santiago do Cacém, onde a consulta me foi recusada, tendo sido encaminhado para o Centro de Saúde de Sines, onde o clinico de serviço, confirmando as suspeitas, me encaminhou para o Hospital de São Bernardo em Setúbal.

Ao longo do ano de 2001, comecei a sentir um nódulo na coxa esquerda e consultei o médico que além de nem ter verificado a situação, não recomendou exames médicos, tendo prescrito apenas uma pomada Picalm, e tendo também me aconselhado a inventar outras doenças. Numa segunda consulta com outro clinico disse-me que o tal nódulo era um lipoma, mas perante o não desaparecimento do mesmo, voltei a consultar um terceiro médico que ao ter prescrito um exame específico, o relatório emitido em 24-04-2002, confirmou as suspeitas de um cancro grave (Leiomiossarcoma), tendo sido encaminhado para o IPO em Lisboa onde fui submetido a uma cirurgia que consistiu numa excisão mais alargada.

A descrição destas quatro situações, configuram má prática médica, em que no caso da transferência do Porto para Lisboa, fui informado posteriormente que a equipa médica que me tratou inicialmente, me enviou para Lisboa para não me amputarem a perna.      

Por minha iniciativa comecei a fazer exercícios físicos de forma autónoma, e a dar os primeiros passos que me permitiram também procurar um trabalho compatível com a minha nova condição física. Apoiado em duas canadianas, andava cerca de dois quilómetros diários para trabalhar num armazém de artigos de papelaria, trabalhei na distribuição, trabalhei na metalúrgica e á cerca de 27 anos, na Segurança Privada, na estrutura portuária de Sines, fazendo turnos de 12 horas.

Uma junta médica atribui-me um grau de incapacidade de 81%, e aos 60 anos de idade, a caminho dos 45 anos de descontos para a Segurança Social, o valor de uma eventual pensão, será de 644:00

Para alguém cuja infância ficou marcada pelo atropelamento por um comboio aos 4 anos de idade, e nos últimos 25 anos se sujeitou a 11 intervenções cirúrgicas, somando a totalidade de 20 intervenções ao longo destes 60 anos, inclusive a um cancro, e nunca esteve de baixa, porque a mesma poderia dificultar o cumprimento de compromissos,  e consegui  articular com os meus colegas para fazerem os dias em que estava de serviço, que posteriormente foram pagos em dias de folga, quando após as intervenções, voltei ao serviço. A ausência do Estado na proteção capaz dos seus cidadãos, é reveladora da atuação do Estado Social, que prefere premiar quem não faz nada com subsídios, do que minimizar as dificuldades de que era suposto ser apoiado por um Estado onde a inclusão é apenas uma palavra sem aplicação prática.

Mediante factos, considero que a constituição da República da 5º revisão, está colocada em causa no capítulo dos Direito e Deveres Socias no artigo 63-nº3 e no artigo 64-3 a    

Quando a classe política, além das pensões a que pode ter direito, acumula subvenções vitalícias porque dizem serviram o país, esquecem-se que o comum dos cidadãos, também serviram o país, pagando impostos para usufruírem de serviços de qualidade, mas o direito aos mesmos, fica muito aquém do que seriam desejável.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       

A Cor Do Dinheiro - Ao Nascer do Dia - 12/06/2024